O papel das crianças na transmissão da covid-19 continua sendo uma incógnita, mas os avanços científicos revelam algumas pistas nesse sentido. Um estudo publicado no periódico JAMA Pediatrics, nesta quinta-feira (30), constatou que crianças pequenas têm uma carga viral mais alta de coronavírus do que adultos. Isso pode significar uma capacidade relevante de transmitir a doença, segundo reportagem da BBC Brasil.
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Pesquisadores do Hospital Infantil Ann & Robert H. Lurie de Chicago, nos Estados Unidos, reuniram amostras de 145 pacientes com covid-19, com sintomas leves e moderados e no estágio inicial da doença (com, no máximo, sete dias de diagnóstico). Eles foram divididos em três grupos – crianças com até cinco anos (46 pacientes); crianças entre cinco a 17 anos (51 pacientes); e adultos de 18 a 65 anos (48 pacientes).
No estudo, os testes moleculares (PCR) encontraram em crianças de até 5 anos com Covid-19 mais fragmentos do material genético do vírus — mas não o vírus “inteiro” — do que em crianças com 5 a 17 anos ou mesmo nos adultos. O chamado valor CT foi semelhante para crianças mais velhas (11.1) e adultos (11.0), mas significativamente mais baixo para crianças mais novas (6.5). Isso quer dizer que houve a necessidade de menos ciclos para detecção de fragmentos do vírus, o que é um indicativo de uma carga viral maior.
A médica e autora principal do estudo, Taylor Heald-Sargent, informou à BBC Brasil que o estudo “não examinou diretamente a replicação viral ou a transmissão do SARS-CoV-2, mas foi demonstrado para outros vírus que quantidades mais altas do patógeno podem aumentar a capacidade de transmissão.”
Ela também lembrou o fato de que crianças pequenas são menos propensas a usarem máscaras regularmente, a manterem boa higiene das mãos e estão mais suscetíveis a colocarem a mão na boca ou tocarem o nariz. “Parece lógico (supor) que as crianças sejam capazes de transmitir o vírus a outras pessoas”, concluiu.
Na reportagem, especialistas pedem cautela com os resultados. Ainda que o material genético do patógeno seja encontrado no corpo com o PCR, como foi feito no estudo, isso não significa que a doença se desenvolveu ou que ela pode ser transmitida.